Certa raposa caiu numa armadilha. Debateu-se,
gemeu, chorou e finalmente conseguiu fugir, embora deixando na ratoeira sua
linda cauda. Pobre raposa! Andava agora triste, sorumbática, sem coragem de
aparecer diante das outras, com receio da vaia.
Mas de tanto pensar no seu caso teve a ideia
de convocar o povo raposeiro para uma grande reunião.
— Assunto gravíssimo! — explicou ela. Assunto
que interessa a todos os animais.
Reuniram-se as raposas e a derrabada, tomando
a palavra, disse:
— Amigas, respondam-me por obséquio: que
serventia tem para nós a cauda? Bonita não é, útil não é, honrosa não é... Por
que, então continuarmos a trazer este grotesco apêndice às costas? Fora com
ele! Derrabemo-nos todas e fiquemos graciosas como as preás.
As ouvintes estranharam aquelas ideias e,
matreiras como são, suspeitaram qualquer coisa. Ergueram-se do seu lugar e,
dirigindo-se à oradora, pediram:
— Muito bem. Mas cortaremos primeiro a sua.
Vire-se para cá, faça o favor...
A pobre raposa, desapontada, teve de obedecer
à intimação. Voltou de costas.
Foi uma gargalhada geral.
— Está explicado o empenho dela em nos
fazer mais bonitas. Fora!
Fora com a derrabada!
E correram-na dali.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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