Uma raposa foi deitar-se, fingindo-se de morta, no caminho por onde um homem ia passar. O homem chegou, parou e disse:
— Coitada da amiga raposa! Fez um buraco e enterrou-a.
Assim que ele se afastou, a raposa saiu da cova e correu por dentro do mato até sair lá adiante. Deitou-se de novo na estrada, sempre a fingir de morta.
O homem chegou e disse:
— Oh, outra raposa! Coitadinha... Arredou-a da estrada, cobriu-a de folhas secas e lá se foi.
A raposa repetiu a manobra. Correu a deitar-se lá adiante, no meio do caminho. O homem chegou e enrugou a testa.
— Quem será que anda matando estas raposas?
Mas não a enterrou, nem a cobriu de folhas secas. Deixou-a onde estava.
A raposa pela quarta vez repetiu a manobra. Foi correndo deitar-se lá adiante. O homem chegou, e vendo mais aquela disse: "O diabo leve tanta raposa morta!" E agarrando-a pelo rabo jogou-a no mato.
A raposa ficou pensativa.
— Estou vendo que é um perigo abusar dos nossos benfeitores...
— Isto é uma história moral — disse Pedrinho.
— Sim — concordou dona Benta. — É das tais que encerram uma lição. "Não abuses!" é a lição que a gente tira daí. A raposa abusou da bondade do homem — e se insistisse mais uma vez, o homem era capaz de dar-lhe um pontapé que a matasse de verdade.
— E seria bem feito — disse Emília. — Quem
atropela desse modo os bons, merece pau.
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Ano de
publicação: 1922.
Pesquisa
e adequação ortográfica: Iba Mendes (2021)
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