A MULHER DENGOSA
Era uma vez um homem casado com uma mulher muito dengosa, que fingia não querer comer nada diante do marido. O marido foi reparando naquelas afetações da mulher, e quando foi num dia ele lhe disse que ia fazer uma viagem de muitos dias. Saiu, e em vez de partir para longe, escondeu-se por detrás da cozinha, num coxo.
A mulher, quando se viu sozinha, disse para a
negra:
— Ó
negra, faz aí uma tapioca bem grossa, que eu quero almoçar.
A negra fez e a mulher bateu tudo, que nem
deixou farelo. Mais tarde ela disse à negra:
— Ó
negra, me mata aí um capão e me ensopa bem ensopado para eu jantar.
A negra preparou o capão, e a mulher devorou
todo ele e nem deixou farelo. Mais tarde a mulher mandou fazer uns beijus muito
fininhos para merendar. A negra os aprontou e ela os comeu. Depois já de noite
ela disse à negra:
— Ó
negra, prepara-me aí umas macaxeiras bem enxutas para eu cear.
A negra preparou as macaxeiras e a mulher
ceou com café.
Nisto caiu um pé d’água muito forte. A negra
estava tirando os pratos da mesa, quando o dono da casa foi entrando pela porta
adentro. A mulher foi vendo o marido e dizendo:
— Oh,
marido! Com esta chuva tão grossa você veio tão enxuto!?
Ao que ele respondeu:
— Se a
chuva fosse tão grossa como a tapioca que vós almoçastes, eu viria tão ensopado
como o capão que vós jantastes; mas como ela foi fina como os beijus que vós
merendastes, eu vim tão enxuto como a macaxeira que vós ceastes.
A mulher teve uma grande vergonha e deixou-se
de dengos.
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