Um velhinho, muito velho, vivia de tirar
lenha na mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava
com eles, quase caía, e um dia, caiu de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se
amargamente:
— Antes morrer! De que me vale a vida, se nem
com este miserável feixe posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso desta vida
inútil.
Tentou erguer a lenha. Não pôde e,
desanimando, invocou pela segunda vez a Magra.
— Por que demoras tanto, Morte? Vem, já pedi,
vem aliviar-me do fardo da vida. Andas pelo mundo a colher criancinhas e
esqueces de mim que te chamo... A Morte foi e apareceu — horrenda, escaveirada,
com os ossos a chocalharem e a foice na mão.
Ao vê-la de perto o homem estremeceu de
pavor, e mais ainda quando a Magra lhe disse, batendo os ossos do queixo:
— Cha-mas-te-me; a-qui-es-tou!
O velho tremia, suava... E para sair-se dos
apuros só teve esta:
— Chamei-te, sim, mas para me ajudares a
botar esta lenha às Costas...
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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