Havia um homem viúvo que tinha duas filhas
pequenas, e casou-se pela segunda vez. A mulher era muito má para as meninas;
mandava-as como escravas fazer todo o serviço e dava-lhes muito.
Perto de casa havia uma figueira que estava
dando figos, e a madrasta mandava as enteadas botar sentido aos figos por causa
dos passarinhos.
Ali passavam as crianças dias inteiros, espantando-os e cantando:
Quando acontecia aparecer qualquer figo
picado, a madrasta castigava as meninas. Assim foram passando sempre
maltratadas. Quando foi uma vez, o pai das meninas fez uma viagem, e a mulher
mandou-as enterrar vivas. Quando o homem chegou a mulher lhe disse que as suas
filhas tinham caído doentes e lhe tinham dado grande trabalho, e tomado muitas
mezinhas, mas sempre tinham morrido. O pai ficou muito desgostoso.
Aconteceu que nas covas das duas meninas, e dos cabelos delas, nasceu um capinzal muito verde e bonito, e quando dava o vento o capinzal dizia:
Andando o capinheiro da casa a cortar capim
para os cavalos, deu com aquele capinzal muito bonito, mas teve medo de o
cortar, por ouvir aquelas palavras. Correndo foi contar ao senhor.
O senhor não o quis acreditar, e mandou-o cortar aquele mesmo capim, porque estava muito grande e verde. O negro foi cortar o capim, e quando meteu a foice ouviu aquela voz sair de baixo da terra e cantando:
O negro, que ouviu isto, correu para casa
assombrado, e foi contar ao senhor que o não quis acreditar, até que o negro
instou tanto que ele mesmo veio, e, mandando o negro meter a foice, também
ouviu a cantiga do fundo da terra. Então mandou cavar naquele lugar e encontrou
as suas duas filhas ainda vivas por milagre de Nossa Senhora, que era madrinha
delas. Quando chegaram em casa acharam a mulher morta por castigo.
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