A FORMIGA MÁ
Já houve, entretanto, uma formiga má que não
soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta.
Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando
a neve recobria o mundo com seu cruel manto de gelo.
A cigarra, como de costume, havia cantado sem
parar o estio inteiro e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa
onde abrigar-se nem folhinha que comesse.
Desesperada, bateu à porta da formiga e
implorou – emprestado, notem! – uns miseráveis restos de comida. Pagaria com
juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse.
Mas a formiga era uma usurária sem entranhas.
Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la
querida de todos os seres.
– Que fazia você durante o bom tempo?
– Eu… eu cantava!…
– Cantava? Pois dance agora, vagabunda! – e
fechou-lhe a porta no nariz.
Resultado: a cigarra ali morreu
entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais
triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra,
morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria
pela falta dela?
Os artistas, poetas, pintores e músicos
são as cigarras da humanidade.
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Ano de publicação: 1921.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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