Coruja e águia, depois de muita briga
resolveram fazer as pazes.
— Basta de guerra — disse a coruja.
— O mundo é grande, e tolice maior que o
mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia.
— Também eu não quero outra coisa.
— Nesse caso combinemos isso: de agora em
diante não comerás nunca os meus filhotes.
— Muito bem. Mas como posso distinguir os
teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns
borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça
especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os
meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia
encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito
aberto.
— Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo
que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à
toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a
rainha das aves.
— Quê? — disse esta admirada. — Eram teus
filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato
que deles me fizeste…
Para retrato de filho ninguém acredite
em pintor pai.
Já diz o ditado: quem ama o feio, bonito lhe parece.
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Ano de publicação: 1922.
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba
Mendes (2021)
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